“Bora Andreia!” – dizia-me o André enquanto deslizava pelas águas azuis profundas do mítico Cabo de Ares.
O André é fundador da SwimTogether e com ele é certo que vais embarcar numa viagem a nado impossível de esquecer. Eu dificilmente esquecerei os meus primeiros 2500 metros em águas abertas por Sesimbra.
Tudo começou com as caminhadas, e não é por acaso que muitas das Aventuras de meio dia e de dia inteiro da SwimTogether incorporam uma componente considerável de caminhada. Sabemos que os melhores locais, os mais autênticos e aqueles que abraçam uma Natureza virgem, não estão propriamente ao acesso de um carro. É assim que esta aventura começa, a cerca de 3.5 quilómetros de uma das zonas mais exclusivas de Sesimbra – o Cabo de Ares ou o Calhau da Cova.
Enquanto caminhávamos pelas vertiginosas veredas de cascalho recortadas pelo mar, o André explicava-me que a empresa nasceu da sua grande paixão, nadar, algo que nunca deixou de fazer.
Hoje tem uma equipa de elite especializada e programas em vários pontos do país que deixam muita vontade de viajar. Benagil, Arrábida, Tomar, Arouca, Gerês, Açores e Madeira são só alguns dos destinos mais emblemáticos.
A manhã ainda ia nova, o caminho não era novidade para nenhum de nós, pelo que voávamos pelo trilho para ter tempo de sobra para explorar o mar. Pelo caminho ia registando mentalmente os spots por onde já tinha trepado no passado, as lapas que se mantinham escondidas pela vegetação, as descidas abruptas que fiz a deslizar de rabo no chão…
O André contava-me que com a pandemia uma oportunidade surgiu em Portugal. Em 2020 as pessoas saíram das piscinas e foram para o mar nadar. Não foi difícil desenvolver o produto que estavam à procura – pacotes de aulas e treino em águas abertas. Em Portugal podemos nadar o ano inteiro, algo que repetiu muitas vezes. Como não aproveitar?
O dia estava mesmo apetecível, sem vento, um espelho de águas calmas, mas que não engana ninguém quanto à temperatura – de arrepiar o dedo grande do pé. Uma experiência destas pede um Fato Neoprene, uma bóia de sinalização agarrada à cintura, uns óculos para dizer olá aos cardumes e uma banana rica em carboidratos, vitaminas e minerais antes do mergulho da praxe. Onde vamos? À caverna ali ao virar da esquina, claro. E a maré baixa permitiu-nos entrar pelo tímido areal que nunca viu um raio de sol. O que nós gostamos destas experiências subterrâneas!
Quando perguntei ao André se ele tinha um programa favorito dentro da sua remessa de experiências, a resposta rumou para as vizinhanças, Praia da Baleeira, Ribeira do Cavalo… O motivo principal? Estas cavidades naturais rochosas que o mar vai escavando ao longo de milhares de anos que libertam a nossa imaginação a mil.
“- E agora, Andreia? Onde queres ir?” – Ora… À baía, evidentemente! Do cabo, além do mar soberbamente azul e das paredes vertiginosas da Serra do Risco, os poucos metros de areal virgem na base das ravinas é das primeiras coisas que chama a atenção. Tudo parece perto, mas aquele paraíso é longe como tudo e qualquer vislumbre de aproximação a cada braçada é pura imaginação. O André chegava lá em 15 minutos, já eu, só não cheguei no dia seguinte porque ele não deixou “- Boraaaaaaa!” A minha resposta emergia apenas em pensamento “- P#%@=/& !!!”
Nadar no mar é um desafio Camoniano, ao estilo do Adamastor, e não há preparação na piscina suficiente. Nadei muito quando era mais nova e o meu pai quase me convenceu a ir para a Competição, mas largos já são os anos e agora são muito curtas as braçadas entre descidas ao mar a meio de caminhadas pelas regiões costeiras. Adoro o mar e se poder escolher entre uma subida à montanha ou uma descida pelos penhascos, muitas vezes ganha este cenário costeiro que é uma constante na minha vida.
“- Já estás nos mil metros Andreia! Tens aí um peixe ao teu lado.” Eu juro que gostava de ter delirado mais com a vida marinha à minha volta, mas naquele momento confesso que só tinha olhos para a praia que se aproximava. A cor do fundo do mar estava a clarear, o que significava que depois de atravessar o denso matagal de algas iria sentir a areia macia debaixo dos pés. Só não tinha noção que depois de tanto tempo na posição horizontal, suster-me na vertical seria outro desafio.
Já na praia, a estadia foi curta, com passagem por mais uns buracos cheios de charme. Para Oeste, a água é cada vez mais translúcida e dá vontade de por ali ficar a explorar. Entretanto, o Parque Natural da Arrábida tem especificidades que é preciso ter em conta. Não é em todas as zonas que podemos circular livremente, sendo que ao virar de uma pequena extensão de terra a entrar para o mar, estamos em zona de proteção total, o que significa que não podemos transpor a barreira, seja por barco ou a nado.
O regresso foi com menos paragens, a apreciar as paredes verticais desde lá de cima até cá abaixo. Lembro-me que por terra o forte parece ter uma dimensão imponente, mas por mar parece um brinquedo de criança, de tão pequeno em contraste com aquela imensidão de rocha natural.
Tenho milhões de agradecimentos para fazer ao André.
A começar por me ter deixado escolher o local que eu queria, contra todas as adversidades da minha inexperiência. Não foi só mérito pessoal os meus primeiros 2500 metros em águas abertas. A companhia e todo o trabalho motivacional por trás fez a diferença.
Depois, por personalizar esta experiência à minha medida, ou talvez mais ainda. Levar-me à baía perdida foi um voto de confiança que me fez dar tudo para tentar corresponder.
E ainda por partilhar comigo as suas histórias, as suas aventuras e como tem sido esta jornada empreendedora e simultaneamente aventureira. Não tenho a menor dúvida de que a SwimTogether será a referência de Wild Swimming em Portugal.
Por último, aaaaaah… pela deliciosa Farinha Torrada, um doce típico da região maravilhoso, que veio junto com o programa e que eu comi e me lambuzei com extremo regozijo. Guardo religiosamente o papel da pastelaria Camponesa para não me esquecer onde tenho que voltar muito em breve.
E sabem a melhor? De regresso, a subir novamente aquela brutalidade de serra, vejo o André esticar o braço em direção ao horizonte, e ao mesmo tempo que miro o olhar, oiço aquele guinchar feliz vindo do mar de um grupo de golfinhos a brincar. Uma pérola…
André, em breve trago-te um grupo e vamos repetir, ok?
Boa sorte nos 30k no MiusMadeira!
Embarca na tua wild swim adventure com a SwimTogether aqui.