Estávamos curiosos com o projeto Cavalum há já algum tempo.
Quem era aquele grupo de amigos que se reunia em prol da preservação e reabilitação do Rio Cavalum? Qual era a missão e os princípios que os comandava? E para onde seguiriam na liderança do projeto?
Fomos atrás do Jorge em busca da resposta, e recebemos um testemunho de uma força incrível da Natureza que está bem presente neste grupo de pessoas que desenvolveram este projeto comunitário em Penafiel.
O projeto Cavalum nasce ou ganha consistência na primeira semana de confinamento total em Março de 2020, quando Portugal fechava portas pela primeira vez na presença do Covid-19.
Os passeios higiénicos, o verde e a Natureza passaram a ter muito mais importância nesses dias e acredito que essa necessidade inspirou e chamou outras pessoas para me acompanharem neste projeto.
O pouco que o nosso rio Cavalum tinha, aparentemente, para dar, valia agora muito. Uma storie no Instagram trouxe um amigo, esse amigo trouxe outro amigo e outro amigo chamou mais um amigo, e quando demos conta tínhamos um grupo de trabalho de pessoas maravilhosas e apaixonadas pelo que fazem pelo meio ambiente e que hoje são o pilar que sustenta este projeto.
Reunidas as condições de trabalho para surtir um efeito positivo neste ecossistema tão frágil, decidimos que era altura de mudar o “rumo” deste Rio e toda a sua envolvência e proporcionar uma oportunidade de “restart” a um ecossistema que trazia uma história de poluição com as descargas poluentes e acumulação de lixo.
Inicialmente começámos apenas por recolher lixo junto às margens e logo a seguir iniciámos ações de limpeza de vegetação nos poucos percursos existentes, nesta fase ainda sem ninguém conhecer o nosso projeto, quem éramos e por que o fazíamos. Chamavam-nos “O Grupo de Amigos Anónimos do Cavalum”.
À medida que as nossas atividades iam evoluindo, e também o nível de exigência com os pequenos projetos de construção e manutenção de trilhos e a recolha de lixo agora também no leito do rio, as nossas intervenções chamaram a atenção nas redes sociais. Isto aconteceu a meados de Maio deste ano, 2021, despoletado pelos conteúdos digitais que fomos criando para documentar todo o processo.
Nesta altura ficámos algo expectantes e reticentes quanto ao feedback e aprovação, pois na realidade estávamos a fazer um trabalho voluntário desprovido de consentimento ou conhecimento da autarquia. Além disso, levantava-se agora a dúvida se existiriam proprietários particulares de algum terreno. Impulsionados pela vontade de colaborar num projeto inserido dentro dos nossos valores e na tentativa de fazer o que nos parecia certo, começámos, então, a interrogar-nos sobre quais seriam agora os nossos próximos passos.
A preocupação dissipou-se quando o Presidente da Junta de Freguesia de Penafiel nos chamou para conhecer as caras de quem tinha, espontaneamente, iniciado estas atividades, propondo-nos um plano colaborativo no projeto.
A recolha dos sacos de resíduos que íamos reunindo passou a ser realizada pela Junta e tivemos acesso a ferramentas que vieram facilitar muito todas as nossas intervenções. A divisão do Ambiente da Câmara Municipal de Penafiel aliou-se à causa e introduziram dois biólogos do município, o que foi essencial para as nossas ações ganharem uma dimensão mais consciente e dotada do conhecimento necessário. Biólogos! Dois profissionais extraordinários, com muita sabedoria e vontade de fazer mais e melhor por este nosso Rio que passa mesmo na encosta do centro urbano da cidade, mas que não deixa de ser, por isso, o nosso tesourinho.
O seu ensinamento trouxe-nos conhecimento sobre a fauna e flora, sobre as plantas invasoras, sobre o processo de remoção das mesmas, sobre tudo o que era, até então, do nosso desconhecimento, sendo nós apenas um grupo de jovens que, de uma forma simples e com alguma inexperiência, iniciou um projeto movido por um carinho e uma paixão enormes.
Hoje, trabalhamos todos em conjunto em prol do restauro deste ecossistema que desejamos proteger. Somos estudantes, designers, empregados fabris, engenheiros, mineiros, biólogos, empregados de limpeza, mecânicos, professores, pessoas de várias e distintas profissões, todos com a mesma vontade e o desejo de fazer o bem, de mudar as nossas rotinas e até as atitudes enquanto seres humanos dedicados à proteção do meio ambiente.
Apesar deste efeito comunitário inspirador e emocionante, nem tudo foi mágico e bonito. Também sentimos a pressão do envolvimento político e assistimos a práticas de pessoas que continuam a deixar o seu rastro de poluição, a comentários negativos e muitos outros desafios.
Queremos agora dar um passo importante para que nos tornemos uma entidade, formando uma Associação que imprima maior credibilidade às nossas ações e, consequentemente, nos ajude a conseguir mais e melhores apoios, proporcionar mais atividades que levem as pessoas a explorar e a descobrir a Natureza, reconstruir o nosso património cultural local, como os moinhos e os seus moleiros, e até criar um espaço de Interpretação do Rio e do seu Património, um espaço de Ciência Viva. São tantas as metas e tantos sonhos que queremos abraçar, tanto que podemos fazer e que está ao nosso alcance, basta querer.
O mais importante era juntar um grupo de pessoas unidas pela mesma vontade, e aqui já me sinto um vencedor. Consegui juntar pessoas extraordinárias!
MUITO OBRIGADO Jorge Santos, Paulo Santos, Margarida Policarpo, António Ribeiro, Isilda Santos, Joana Moreira, Jaime Soares, Pedro Policarpo, Cristiana Teixeira, Ana Santana, Ana Isabel, André Simão, Mónica Patrícia, Miguel Ângelo, Miguel Pereira, Graça Ribeiro, Natália Oliveira, Sharlit Deyzac, Rob Kerr, Miguel Gomes e Sónia Teixeira.
Acompanha as ações do Projeto Cavalum aqui.