Consegui largar o trabalho mais cedo, a bike lavadinha no porta malas a pedir pó.
Faltava decidir-me pelo trilho BTT. Pêgo das Pias ou Cabo Sardão? As memórias de um pôr do sol cinematográfico do alto das falésias falou mais alto. Afinal, ainda estamos em Junho, e as piscinas naturais do Litoral Alentejano à Costa Vicentina são do melhor que há.
Fui ao site da Rota Vicetina buscar o track do Cabo Sardão. Hmmm… 65 km é muito quilómetro e desta vez eu tinha-me esquecido das luzes a carregar em casa. “Ora, sigo aqui pela costa até à Zambujeira, viro ali mais à frente, faço corta-mato pela estrada para apanhar o trilho no regresso e encurto a coisa talvez para metade”. As certezas não eram muitas, e se há coisa que aprendi, é que nunca acerto nos tempos do BTT. Vamos lá então?
Já fiz o trilho do Cabo Sardão à Zambujeira do Mar, várias vezes, mas a caminhar. Encantava-me a ideia de o pedalar a direito, sem grandes desníveis e acompanhada pelo azul do mar. A maré estava baixa, mesmo a pedir um mergulho.
Tive alguma pena de não me ter demorado mais neste troço, especialmente quando mais tarde encontro uma mensagem perdida no telemóvel “Por acaso estás na Zambujeira do Mar? Acho que passaste por mim depois da Praia do Tonel”. Bolas… E eu que até fiz uma breve pausa para apreciar novamente aquela baía escavada na falésia que ainda não desci. “Fica para outro dia?”
Nem tudo foi espetacular, mas o bom das adversidades é que também fazem uma boa experiência
Primeiro, estava convencida que o trilho poderia estar sinalizado. Não estava. Por sorte tinha o download do percurso, mas sem o suporte no guiador para fixar o telemóvel, o jeito era pouco ou mesmo nenhum. O resultado foi meter-me pelo caminho errado quando já estava a regressar, lá para depois da Zambujeira do Mar. Enganei-me uma, duas e três vezes. Comecei a sentir uma ponta de vergonha, mas consegui um feito único. Desenhei um agroglifo no meu track, e ainda hoje não sei como pedalei em círculo sem me aperceber.
Depois encontrei um portão a barrar a passagem. Não era suposto. Acabei por saltar a levada de bicicleta montada em mim. Não me apetecia nada continuar a inventar caminho com o dia a terminar, muito menos dentro de uma floresta.
E os insetos? MUITOS. Comi-os a todos, pela boca, olhos e nariz. Foi o apogeu do romantismo de uma pedalada no campo. A paisagem salpicada de estufas para os lados da Zambujeira, também não é das melhores.
Nada disto tirou valor à minha experiência.
O percurso oficial começa em Odemira, mas como perceberam, decidi partir do Cabo Sardão e seguir o Trilho dos Pescadores até à Zambujeira do Mar. Aí enveredei por caminhos florestais, campestres e de pastoreio no regresso. A ideia era fazer o percurso em BTT, mas o sol já estava demasiado próximo do horizonte. Dei por mim a ansiar por um estradão pavimentado que rapidamente me levasse a rolar até ao Cabo Sardão, antes que se fizesse noite. O meu desejo concretizou-se ali perto do descampado do Meo Sudoeste. Deixei de lado a aventura e optei por acompanhar a estrada.
Se os pontos altos do percurso foram a paisagem recortada na costa, as praias selvagens ainda pouco movimentadas, o marulhar a puxar a brisa salgada e o espelho dos canais de rega a serpentear no campo, mais incrível foi finalizar de frente para o oceano Atlântico, após quilómetros a pedalar pelas loooooongas estradas do Alentejo, a lua cheia levantando-se imponente atrás de mim e a luz do farol a girar continuamente…
A falta que isto me fazia! Ainda devo regressar para fazer o track oficial, aqui.